O Sabá das Feiticeiras,Reportagem da revista Planeta/2000. Parte IV
>> segunda-feira, 6 de junho de 2011
Extraíam-se assim as mais absurdas confissões, incluindo transformações dos envolvidos em cisnes negros, gatos ou lobos; também suas sevícias trocadas com Satanás.
Na Alemanha, onde nascera o terror, os números não deixam dúvidas do empenho inquisitorial: 45 feiticeiras queimadas num só ano em Colônia; em Salzburgo, 79; 300, em 3 anos, na Província de Babemberg; quase mil em Wuerzburgo; e mais de 6.500 em Trier!
Um curioso episódio merece ser contado. Três mulheres incriminavam um homem perante o implacável Sprengher, de ele lhes ter lançado um mau-olhado, posto que, ao mesmo tempo haviam sentido um arrepio quando estava perto delas somente o tal rapaz. O acusado jurava por todos os santos ser inocente; mas em vão. Por fim, sentenciado à fogueira, sua memória clareou; disse ser mesmo verdade, pois agora se lembrava de que na hora em que lhe atribuíam o mal feito ele de fato expulsara aos chutes três gatas pardas que haviam sorrateiramente entrado em sua casa. Sprengher, meritíssimo esclarecido, compreendeu então o fato; mandou libertar o pobre homem e levou à fogueira as acusantes.
Com o terror espalhado, o fantasioso distorcia a realidade. Mulheres histéricas, convencidas de sua culpa, muitas vezes aceitavam resignadas sua condenação à fogueira. Há casos de senhoras maiores de 80 anos confessando em detalhes como haviam sido violentadas pelo demônio. Em várias cidades as escolas são fechadas, posto que serviam às crianças para que trocassem entre si conhecimentos mágicos proibidos.
Em que pese a histeria disseminada no bojo do horror da Inquisição, algo resta acima de qualquer dúvida: os relatos do sabá tomados por confissão na Alemanha, em nada diferiam dos que eram detalhados pelas bruxas suíças, francesas, italianas, espanholas ou portuguesas. Na Inglaterra, onde a forca era quem esperava os hereges, os relatos são quase idênticos. Onde quer que se prendessem as bruxas, as confissões acerca do sabá traziam curiosa coincidência, que não poderia ter sido mera obra do acaso. Se por um lado os Tribunais forçavam seus réus a mentiras e falsas confissões que os incriminassem, por outro, havia de fato uma cultura pura, não cristã, ou cristã divergente da moral católica, que nem se importara muito com a Igreja até esta resolver deitar sua rede de holocausto sobre os povos pagãos, como os cátaros albingenses e os valdenses no sul da França, por exemplo, dentre outras tantas minorias germânicas que, massacradas pela Inquisição, refugiaram-se em terras nórdicas.
Sobre o rito do sabá das feiticeiras, concluíram os Tribunais: uma bruxa servia sempre de altar. A seu lado, uma figura de madeira, com chifres, representava o bode, ou Satanás. As estriges chegavam "voando" sobre suas vassouras, isto é, com o falo em suas mãos e por entre as pernas. Havia um banquete, durante o qual corria uma poção mágica, sempre uma beberagem excitante, a qual predispunha os participantes ao sexo sem critério. Era feita então a oferenda ao Diabo, geralmente alimento e bebida; apresentava-se a hóstia negra; consagrava-se o último morto e o último nascido na comunidade, já que à Terra voltam os que dela nascem; invocava-se o raio; e por fim dilacerava-se um animal em sacrifício ao Demônio.
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