O Sabá das Feiticeiras, reportagem da revista Planeta/2000. Parte III

>> segunda-feira, 6 de junho de 2011



Somente em 1250 é que alguns bispos entregam ao dominicano Étienne de Bourbon a primeira descrição do sabá. Oito anos depois iniciam-se os processos por feitiçaria, e só no ano de 1275, após várias condenações, uma primeira acusada é morta na fogueira. O próprio São Tomás de Aquino (1225-1274), expoente da escolástica, declara ser possível a união carnal com Satanás. "Tudo o que acontece por via natural, o diabo pode imitar!", afirmou.

Em 1318, o bispo de Cahors é condenado à fogueira sob acusação de haver tramado magicamente contra o Papa João XXII, por encantamento com boneco de cera, do qual a história tem relatos semelhantes desde 2500a.C. O poeta Virgílio (70-19a.C.) também fez referência à mesma prática. Em 1398 será a vez da Universidade de Paris reforçar a tese da união sexual entre as bruxas e o demônio, e em 1424 o monge Bernardino de Siena (1380-1444) prega contra as artes mágicas em Roma. Em 1465, curioso fato, é condenado à fogueira o prior da ordem dos Servitas, dono de um bordel, acusado não de empreender qualquer tipo de negócio ilícito, mas sim porque eram súcubos (demônios sob a forma feminina) quem ele oferecia aos que visitavam sua casa de prazeres.


Até esse momento, no entanto, os processos só eventualmente levavam à pena capital. Embora houvesse campanhas da Igreja contra hereges e pagãos, nenhuma caça sistematizada às bruxas existia. Tanto é que os carmelitas, em 1474, de seu púlpito, arriscavam-se a prever o futuro durante as missas, e o diziam fazer com auxílio dos demônios. Só com a reiterada insistência de dominicanos alemães é que o Papa Inocêncio VIII, em 5 de dezembro de 1484, publica a bula Summis Desiderantes Affectibus ("Desejando com Suma Ansiedade"), que espalharia o terror pelo continente:


"...tem chegado recentemente a nossos ouvidos que em certas regiões da Alemanha setentrional [...] nas dioceses de Mainz, Colônia, Trier, Salzburgo e Brêmen, muitas pessoas de ambos os sexos, esquecendo-se de sua própria salvação e apartando-se da Fé Católica, têm mantido relações com os demônios [...] por meio de encantamentos, feitiços, conjuros e outras superstições malditas..."


Confirmada pelo imperador Maximiliano I, o Papa designa para executar a bula, a começar pelo país reclamante, os monges Heinrich Institor e Jacob Sprengher. Este último, deão da Universidade de Colônia, publicaria dali a dois anos, com Heinrich Kramer, prior de Salzburgo, a mais importante obra sobre demonologia da história, o temível Malleus Malleficarum ("O Martelo das Bruxas"), fonte de inspiração para todos os tratados posteriores.

O "Malleus", código atroz contra as artes negras de magia, mais do que a bula papal, peremptoriamente abriu as portas para o rolo compressor da santa histeria em que se transformou a Inquisição. Sua intenção era pôr em prática a ordem do Êxodo, 22;17: "A feiticeira, não a deixarás com vida".


O "Martelo das Bruxas" dividia-se em três partes. A primeira discursava aos juízes, ensinando-os a reconhecer as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. A segunda expunha todos os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os. A terceira regrava as formalidades para agir "legalmente" contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las para sempre condená-las.

O processo era cruel. Levava-se ao tribunal qualquer um que fosse suspeito de feitiçaria. Bastavam três testemunhas para que juntas servissem como "prova" dos autos. Os filhos podiam entregar seus pais; os cônjuges podiam delatar-se mutuamente. Por meio de tortura obtinham-se as confissões. Os réus eram ainda submetidos às provas ordálicas; nestas, qualquer mancha escura na pele do acusado serviria como prova do pacto com o Demônio. A insensibilidade à dor em qualquer parte do corpo também era indício de feitiçaria; ademais, amarravam-se os suspeitos em cruz sobre madeiras, e os atiravam nalgum rio. Se o acusado não afundasse, estava aí a prova de que o Diabo o protegia, razão pela qual era entregue à fogueira; caso se afogasse, estaria antecipada a justiça divina.

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