O Sabá das Feiticeiras, reportagem da revista Planeta/2000. Parte I

>> segunda-feira, 6 de junho de 2011



O sabá das feiticeiras


Por Paulo Urban (*)Publicado na Revista Planeta nº 346 / julho 2000



Predicadas pelo estranho 13, as sextas-feiras, noites de sabá, impõem maior respeito ao imaginário popular; se a noite for de lua cheia então...

A sexta-feira é 13. Muita gente tem medo dela! Seu nome sugere feitiçaria e, para muitos, sua ocorrência no calendário é prenúncio do azar. Toda sexta-feira, entretanto, acha-se associada à idéia do Sabá, como ficou conhecido a partir da época medieval o festim em que as bruxas reunidas banqueteiam em presença do Demônio. Também às sextas, à luz da lua cheia, os amaldiçoados lobisomens se transformam, e os vampiros propalam-se em vôo sedento de sangue à procura de suas vítimas.


Mas, e quanto ao maldito número 13? É o número da morte, do azar, do mau agouro, dizem alguns. Para outros, contradizendo, pode simbolizar a sorte por trazer em si as transformações, visto que o 13 representa o rompimento dos limites, a quebra dos padrões estatutários impostos pelo 12. Expliquemos melhor. O 12 expressa as coisas inteiras, os sistemas fechados e completos. Observe-se que são 12 os meses do ano, as horas do dia e da noite; também o número de deuses do Olimpo e de constelações e signos do zodíaco; e 12 são as notas musicais, tons e semitons. Já o 13 é aquele que ultrapassa a ordem conhecida das coisas, promove a revolução do novo, e se intromete em nosso mundo de modo a perturbar nossa aparente sensação de segurança, advinda da ordinária dimensão à qual estamos acostumados. Associado ao jogo, às vicissitudes da vida, igualmente à sorte e ao azar, o 13 ainda compõe o número de cartas de cada um dos 4 naipes dos baralhos comuns. E eram 12 os apóstolos presentes à última ceia de Cristo, de onde se criou a superstição medieval de que quando 13 se reúnem à mesa para comer, um em breve irá morrer.


Predicadas pelo estranho 13, as sextas-feiras, noites de sabá, impõem maior respeito ao imaginário popular; se a noite for de lua cheia então...

Na mitologia assírio-babilônica, data-se além de 8 mil anos a crença de que Isthar, a lua, tornava-se indisposta a cada plenilúnio, quando então se observava o sabattu, período de recolhimento dos homens em respeito à Grande Deusa. Veja-se que provém da antigüidade mais remota o útil conselho dado aos maridos para que estes não provoquem suas mulheres em fase pré-menstrual. Durante a indisposição de Isthar, guardava-se o sábado, que primitivamente era mensal, dia considerado nefasto, no qual não se autorizava qualquer tipo de trabalho, nem viajar ou cozinhar alimentos. Com a percepção de que Isthar apresentava fases cíclicas, crescente, cheia, minguante e nova, a cada 7 dias renovadas, a prática do sabattu estendeu-se a todas as semanas de modo a demarcar sempre o último dia da semana.


Sábado, em português, vem do latim sabbatum, que, por sua vez foi emprestado do grego sábbaton. Este, seria proveniente do hebraico sahabbat, que, etimologicamente, deriva do verbo sabat (parar). Outras fontes o extraem de seba (sete), ou o tomam como corruptela do termo sabi'at (sétimo dia). Tenhamos em conta ainda que o hebraico sabbat guarda enorme semelhança com sapatu, que em dialeto árcade primevo significava "parada, descanso", também "sono da lua". Nesse caso, o termo hebraico seria originário do grego, ao contrário da primeira hipótese.

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